20.10.05

Lá pelo meio de fevereiro de 2001

Ane e eu existindo há menos de três semanas e veio o grande salto. – Vamos morar junto? Pouco dinheiro, muita paixão e quase nenhuma reflexão. – Demorô. E tome levar coisa da Demétrio para a Sarmento Leite, onde Ane existia antes de mim. Minhas coisas chegando àquele vazio todo, ocupado ainda apenas por caixas e um colchão de solteiro. Antes do salto era assim: uma noite aqui, outra ali. A de ali eram meio incomodas, com os pés sempre no chão e o tombo de quase dez centímetros a cada movimento sobre o próprio eixo. Mas, aquela coisa, de tanto que se precisa, para depois que se deixa. O colchão de casal foi ficando para o canto enquanto iam roupas, cds, livros e até uma televisão, que todos sabem não combinar com paixão recém nascida. Mas uma atitude precisava ser tomada. – Isso não pode continuar assim!!!! Por tanto se delonga que um dia se corre demais. Assim se faz: Pegue o colchão de casal e dobre em três partes, tente amarrar com uma fita de plástico. Fica uma coisa enorme e desconfortável. Agora tente colocar isso dentro de um táxi. Agora pare esse táxi numa rua que só permite a passagem de um carro por vez. Agora escolha o meio da tarde de um dia quente para fazer isso. O que acontece? – E ai meu, será que dá? – Bah meu, acho que dá. No banco de trás. Salta o taxista, abre-se a porta de trás e se empurra, empurra, empurra. Alguns buzinam, duas que passam só olham e riem. Mais buzinam. Olho para o taxista. – Não deu. A rua está liberada. Corro para dentro do prédio com meu monstro dobrado em três partes. Nem olho para trás.