8.6.06

Qual a maior agressão?



Não é possível apoiar as cenas de vandalismo na Câmara dos Deputados. Os integrantes do MLST que recorreram à violência perderam a razão, o apoio e a legitimidade para a defesa de qualquer causa, mesmo a justa causa da reforma agrária. Porém, é válido perceber que os fatos de ontem foram mais um na série de afrontas que o Congresso Nacional vem sofrendo nos últimos dias. Primeiro um advogado com ligações claras com o crime organizado falou abertamente que apenas ladrões transitam pelos corredores das duas casas parlamentares: “Aqui se aprende rápido”, disse Sergio Weslei Cunha na CPI antes de ser preso pelos deputados. Dias depois, vários parlamentares receberam cartas contendo fezes. Agora o quebra-quebra. Nelson Rodrigues já dizia que a massa não tem rosto nem razão e uma vez enfurecida, não pensa. Os motivos podem ter sido outros, mas o ataque às instalações da Câmara, tenha certeza, nasceu do subconsciente nacional de que os deputados merecem uns cascudos por tudo que fizeram nessa última legislatura. Mensalão, sangue-sugas, o deputado Janene que há meses se esquiva de ser interrogado pelo conselho de ética, quase ninguém cassado e a vexaminosa dancinha da petista Gadagnin. Afrontas seguidas que o povo aceitou calado. Não sei se há uma organização nesses ataques à Câmara, mas que no fundo o sentimento é de “bem feito!”, ah isso é. Fora isso, cresce a cada dia o movimento para a anulação das próximas eleições com mais de 50% de votos nulos. Os deputados não podem se fazer de ofendidos em suas autoridades. Devem lembrar sempre que a autoridade é do povo e foi apenas delegada a eles por quatro anos. Isso é a essência da democracia. Democracia que é desrespeitada a cada demonstração de corporativismo nas absolvições de deputados envolvidos em escândalos e indicados para cassação pelo conselho de ética. Uma vidraça pode ser reposta, um carro virado pode ser reparado, mas a credibilidade do parlamento ferida pela corrupção e a impunidade leva muito mais tempo para ser recuperada. Bom mesmo seria ver a mesma agilidade e rapidez demonstrada na prisão dos arruaceiros na punição dos deputados e senadores corruptos.