19.12.06

Rio

Ainda não os entendo. Já são seis meses e ainda não faço idéia de como vivem. Como conseguem? Assim, no meio do nada, do caos. Das vans que avançam cada sinal até o fim. Desse calor e da iminente falta de luz e água. Como podem sorrir? E serem bonitos, alguns pelo menos. Confesso que não sei como. Não entendo o funcionamento dessa parte do mundo. Minha melhor hipótese é Newtoniana - inércia. Nascem, vivem e morrem porque assim lhes foi dito. Sem questionar, sem parar para pensar, e enlouquecer. E ainda amam, e fazem festa de aniversário no domingo e riem e jogam futebol. E vão à praia, que é de graça. E namoram, e não usam camisinha - escondida no fundo do armazem, onde ninguém as vê. E nascem mais e mais e mais. E por que não? São filhos de Deus que vão à missa todo domingo. Na verdade vão ao culto, que padre aqui tá fora de moda. E dão dízimo e rezam e tiram o capeta, e curam o caroço e o abafamento. E nem ligam para o calor, para o pouco dinheiro, para o muito lixo. Mesmo assim dançam, e lançam moda e irradiam a batida enquanto criam novos bordões. E são felizes, mesmo entre tiros. Fazer o que?