28.8.08

O vendedor de petecas

Há vinte anos, pelo menos, ele grita na praça: "Hallo amigo, hallo!". Tudo para tentar chamar a atenção dos turistas que esperam a partida do trêm que os levará ao alto do morro do Corcovado, para que possam apreciar a magnífica vista do Rio de Janeiro e tirar fotos aos pés da estátua do Cristo Redentor. Aqui embaixo, na praça São Judas Tadeu, ele segue vendendo petecas. E não deve vender muitas por dia, mas o suficiente para mantê-lo no negócio desde 1988, pelo menos, ano em que me mudei para esse prédio em frente ao seu "escritório". Na verdade, nem ao menos sei se é a mesma pessoa de 20 anos atrás, o que seria ainda mais fenomenal, uma vez que teríamos uma dinastia de vendedores de peteca - uma atividade passada de pai para filho. Imagino o velho vendedor de petecas ensinando ao rebento os segredos da profissão: como atrair a atenção dos turistas, o sorriso constante, a habilidade na troca de golpes com o companheiro de empreitadas. E aqui chegamos a um ponto crucial na arte de vender petecas aos turistas do Corcovado - o companheiro de jogo. Calado, mas sempre presente, o companheiro de jogo é fundamental para o sucesso da atividade. Sem ele, o vôo da peteca não seria possível. A escolha certa de um companheiro de jogo é vital para o sucesso da atividade. Como uma dupla de volei de práia (tão em voga em tempos de olimpíadas), os dois seguem seu roteiro diario de habilidade, gogó e vendas. Sem nunca terem aprendido inglês ou qualquer outra lingua estrangeira. A não ser, claro, o: "Hallo amigo, Hallo!".