1.9.07

Long Beach















Em Long Beach, tudo pode. Tirando, é claro, tudo aquilo que é proibido. Depois das sete não tem mais ônibus e, fora no centro, nunca há alguém nas calçadas. Nos cruzamentos, sempre havia um carro que ia para esquerda, outro para a direita, um ainda seguia em frente e, os mais radicais, retornavam em U. Long Beach parece habitada por carros. Carros que tiram dinheiro no banco, carros que pedem comida na lanchonete, pagam e comem a comida. Já as pessoas - ou os americanos, no caso - seguem as mesmas. Respeitando regras e sorrindo, mas sempre deixando claro que não te conhecem e, no fundo no fundo, que até têm um pouco de medo de você, ou raiva, ou os dois. São impecavelmente educados, de uma cordialidade agressiva e irremovível. Horários são horários, mãos foram feitas para apertar e faces raramente para beijar. Na TV, sempre que podia, um senador republicano garantia que não era gay apesar de ter proposto um felatio para um policial num aeroporto no meio do país e milhares de jornalistas debatiam. Os jornalistas americanos são mestres na arte de debater o nada e incluir cada vez mais pessoas na conversa. Quando o senador saía de cena, entrava o jogador negro de futebol americano, que aproveitava para se desculpar pelas brigas de cachorro que patrocinou. Ainda na TV, instruções de como sobreviver a um desastre com o seu kit de emergência totalmente caseiro ("Os bombeiros podem levar até 72 horas para chega!", ameaçavam). O capitalismo segue à toda, oferecendo tudo a quem pode pagar. Os Estados Unidos, ou Long Beach, seguem os mesmos. Falam apenas inglês apesar do mar de mexicanos, ignoram o resto do mundo, estão um pouco mais assustados, é verdade, mas seguem firmes. Dez dias entre eles confirmou algumas certezas e materializou alguns clichês.