4.3.09

O Amor

A bola, esquecida e posta de lado, chorou. Mestre Zico estava caído ao chão contorcendo-se em dores. A criança viu tudo do alto. Não entendeu o porquê de todo aquele sofrimento. O camisa dez jazia com a grande ferida no joelho e o pavor na alma.
Zico pegara a bola no meio campo. Sem opções, partira para o drible. A criança se deliciava com o craque. A cada adversário que ficava para trás, um sorriso em seu rosto. O primeiro drible, o segundo, a bola correu um pouco. Zico, sempre valente, foi buscá-la. Mas Márcio Nunes vinha trazendo a dor. Pés ao alto num vôo triste de kamikaze. A criança parou de sorrir. O velho estádio se encheu de silêncio. Um som grave percorreu as arquibancadas como um fantasma de outros dias. A criança foi descobrindo as lágrimas.
A cena era dura. Estúpida. Sem sentido. Zico gritava. A dor era grande. As pernas jaziam estáticas e sangrando. No joelho direito, as chagas marcavam o sacrifício de um craque pela sua nação. A criança gritava para o pai em busca de respostas. O que acontecera com Zico? O pai não tinha respostas.
Não se esperou a maca. O craque foi retirado do campo de batalha pelas mãos do massagista. Zico chorava abraçado ao anjo negro que viera buscá-lo do local de martírio. Mas o sofrimento só estava começando e ele sabia disso. Já no vestiário, em meio aos cuidados dos médicos do Flamengo, Zico pensava em como conseguir forças para voltar. Achou-as em um sentimento.
O craque voltou. Voltou porque é forte, porque é valente, porque tem raça. Mas voltou principalmente porque é um romântico. Zico não suportou ver sua amada bola chorando abandonada. Ela sentia saudades das carícias do craque. Zico entendeu o recado. E voltou. Não podia mais deixar as arquibancadas vazias de beleza. Zico voltou por amor.

Ivan Trindade

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Ontem, 3/03/09, o craque maior, o messias rubro-negro fez 56 anos. Parabens mestre.