31.8.10

A foto


Desde que Época publicou a foto da Dilma fichada, a imagem virou hit.
A tentativa de criminalizar a candidata saiu completamente pela culatra.
Dilma só cresceu nas pesquisas e, a pouco mais de um mês para a eleição, tem mais de 24 pontos de vantagen sobre José Serra.
Logo em seguida, aos poucos, versões alternativas da foto foram surgindo e viraram peças de propaganda da própria Dilma.
No Facebook e no Twitter, milhares de usuários passaram a usar a imagem como seus avatares.
Eu fui um deles.
O uso generalizado da foto, é claro, foi uma resposta à tática facista e eleitoreira da grande mídia de criminalizar todos os jovens que combateram a ditadura militar no Brasil.
Estratégia também burra, uma vez que o próprio José Serra foi membro de uma organização de esquerda nos anos de chumbo.
Uma tática que chegou às bancas de jornais de todo o país primeiramente com a publicação pela Folha de São Paulo de uma ficha de Dilma no DOPS (Departamento de Ordem Política e Social).
Ficha essa que não teve sua veracidade comprovada pelo próprio jornal.
Mas a tática de demonizar Dilma Rousseff é antiga.
Desde que seu nome passou a ser cogitado para a sucessão de Lula, começaram a circular na internet emails com relatos das supostas ações armadas da hoje candidata.
Quem não leu o famoso "Desbafo de um pai", a descrição de como Dilma participou da morte de um jovem soldado em junho de 1968?
Dilma já negou ter participado de ações armadas inúmeras vezes (o que seria legítimo naqueles tempos, uma vez que o país estava em guerra e os jovens combatiam um governo de exceção que havia suprimido inúmeras liberdades civis, prendia, torturava e matava) e, além disso, não foi encontrada nenhuma prova que a ligasse com qualquer ação armada.
Encontrar tal ligação deve ser até hoje o sonho da direita raivosa.
Se a polêmica é vazia, sobrou a foto.
E olhando bem para ela, pode-se perceber que tem muito a dizer.
A jovem Dilma olha para frente, encarando seus algozes.
Não chora e não demonstra medo, mesmo que o sinta.
Sabe que há grande chance de ser torturada, como foi, mas não hesita, não treme.
Sabe que está ali pelos motivos certos, que não fez nada de errado.
Sabe que a causa que defende é a causa correta.
No seu olhar, está, mesmo que distante, a certeza da vitória futura.
Sabe que muitos outros já passaram por aquele tormento e muitos outros passarão.
E sabe que não se dobrará, como não se dobrou.
Sob tortura, mentiu.
Mentiu para salvar a si mesma e aos seus companheiros.
Anos depois, já ministra, foi acusada por um canalha qualquer de ter mentido.
E, com a mesma expressão da foto antiga, respondeu que tinha orgulho de ter mentido sob tortura.
Com aquela mesma expressão, disse que faria de novo.
Hoje, aquela jovem está prestes a se tornar a primeira presidenta do Brasil em mais de 120 anos de república.
Hoje a expresão é outra, mais leve, mais alegre.
Uma expressão de quem sabe que já passou pelo pior que a vida e os homens reservavam para ela.
Uma expressão de vitória, enfim!

Ivan Trindade

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15.8.10

O nojo



Venho sentindo um nojo.
A cada dia, o nojo aumenta.
No início, não sabia do que sentia nojo.
Se era de algo, de alguém, de um cheiro, de uma imagem que eu vira.
Mesmo sem saber do que era, sabia que era nojo.
Mas tentei esconder. Tentei seguir em frente sem ligar para o nojo cada vez maior.
O tempo passou, fui fazer minhas coisas, trabalhar, quase esqueci do nojo.
Mas ele ainda crescia. Todo dia, ao acordar, lá estava, e maior.
Um dia, parei.
Olhei bem para aquele nojo que crescia dentro de mim.
Tive vontade de perguntar para ele, de onde ele vinha.
Mas ele não me responderia, não tinha boca, não podia falar.
Olhei ao redor, investiguei, precisava descobrir de onde vinha tal nojo.
Foi então que vi.
Ao abrir aquele jornal, ouvir aquele cara falar, ver aquele telejornal, encontrei a origem do meu nojo pessoal.
Estava com nojo dessa mídia boçal.
Nojo do Galvão, dos Bonners e Fátimas, dos sorrisos fingidos, das noticias plantadas, das mentiras deslavadas tratadas como verdades.
Quando descobri, percebi que o nojo não vem de uns dias, mas de longe.
É um nojo antigo, um nojo conhecido.
Um nojo de quem trata o povo brasileiro como idiota. Um nojo de quem acha que um penteado bonito e a promessa de isenção e imparcialidade enganam alguém ainda.
Um nojo de quem tem o poder e o usa apenas para o mal coletivo e a benesse de poucos, muitos poucos.
Trago esse nojo comigo desde que vim do sul. Em Porto Alegre, apenas estagiário, vi matéria com criticas à Brigada Militar ser engavetada na Rádio Gaúcha, em pleno governo Rigotto.
Tive nojo. Dessa e de muitas outras.
E tenho nojo, até hoje.
Tenho nojo quando vejo uma revista tratar como uma bandida uma mulher que foi torturada por facinoras.
E faz isso apenas para tentar ganhar alguns votos para o candidato do seu patrão.
Tenho nojo e penso em todos aqueles que morreram, deram suas saúdes, suas liberdades e suas sanidades para que o Brasil fosse hoje um país democrático.
Tenho nojo ao ver como essa mídia boçal trata essas mesmas liberdade e democracia que tanto sangue custaram.
Com nojo, penso que não poderia ser de outro jeito, Já que essa mídia nunca fez outra coisa a não ser se locupletar junto com os parasitas, facínoras e Arrudas.
Sei que o nojo não vai passar, vai sempre existir, sempre estar comigo.
É um mal sem cura, e por isso mesmo bom de combater.
Ivan Trindade